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Dwennimmen: Autodomínio



DWENNIMMEN: literalmente "chifres de carneiro". Símbolo da cultura do povo Adinkra, África. Representa poder, do corpo, da mente e da alma, também humildade, sabedoria e aprendizado.


O símbolo é figurado como numa vista de cima de quatro chifres de carneiros se chocando em combate, significando luta por dignidade, porém, com espírito de respeito pelo adversário.


O carneiro é um animal dócil, mas também digno. Ele usa toda sua força natural para defender seus instintos vitais, mas também reconhece a força de seu inimigo, quando derrotado, sendo seu instinto básico o de resistir ante as adversidades.


Porém, longe de se interpretar docilidade como fraqueza, Dwennimmen representa a estratégia de "ceder para vencer", em uma outra oportunidade. Não é fraqueza, mas um recuo necessário visando sobrevivência, resistência, para uma possível revolução. Foi esse espírito que conduziu os povos africanos retirados de suas terras a uma batalha, muito mais de tomadas de consciências do que de enfrentamento força contra força, mas imergindo em tecidos sociais estranhos, aprendendo a cultura do opressor, até emergirem, com respostas novas, em nome de sua liberdade, de uma forma ou de outra, sem se deixarem extinguir.


É quando se faz uso do combate ideológico como arma tão poderosa quanto uma vacina contra um vírus letal.


A Cultura de Combate a partir do simbolismo de Dwennimmen é esta: ser íntegro de corpo e alma, senhor de si mesmo, física, mental e espiritualmente.


Mesmo espírito ensinado na aprendizagem das artes marciais, pelo original modo de mestre a discípulo. Após o processo de ensino-aprendizagem, o discípulo é levado a dominar seu corpo, assim como sua capacidade estratégica para o enfrentamento, até a um nível de maestria que lhe exige o discernimento para dosar sua força, seu poder, de modo que não extrapole em sua energia e venha a causar danos desnecessários ao seu contendor. Trata-se da virtude da compaixão das espiritualidades imanentes da verdadeira educação marcial.


Nesse sentido, o bom combatente é aquele que sabe unir seu poder físico ao seu poder mental e, acima de tudo, ao poder de seu coração, o qual é sua fonte de moral e caráter, seu poder interno que vem à tona toda vez que sua vida e sua dignidade sejam postas em risco.


Com base nessa sabedoria que Lao Tsé afirma em seu Tao Te Ching, cap. 23:


"Quem conhece os outros é inteligente;

Quem conhece a si mesmo é sábio.


Quem vence os outros é forte;

Quem vence a si mesmo é poderoso.


Quem é autossuficiente é rico;

Quem persevera tem aspiração.


Quem não perde seu lugar é estável;

Quem na morte não morre é vivo."


Na cultura desse povo africano, Adinkra, Dwennimmen é um requisito de pessoas fortes, sábias e compassivas. Recorrência profunda com os ensinamentos budistas dos monges Shaolin, por exemplo, para os quais um guerreiro autêntico não pode ser assim chamado sem demonstrar no seu dia a dia a força do tigre e a sabedoria do dragão; ou dos guerreiros samurais seguidores do Bushido; algo que também se vê em diversas outras culturas marciais, como o preparo dos meninos no Agoge, a formação dos hoplitas espartanos antigos; ou, ainda, como a reclusão dos jovens aspirantes a guerreiros águias e jaguares astecas; igualmente, dos jovens combatentes indígenas brasileiros Bakairi, Yawalapiti, Kamaiurá, etc, praticantes do Huka Huka; entre outras fontes igualmente válidas - todas significando uma verdadeira educação para o combate que envolve desde o domínio físico até o da alma, um diferencial que denota maturidade contra brutalidade.


Este é o sentido profundo do ser Guerreiro, e não apenas restar no baixo nível de Soldado.


Dwennimmen é um símbolo ao mesmo tempo de domínio e de humildade. Essas são as características marcantes dos africanos submetidos a deportações e escravidões forçadas, assim como as ocorridas nas Américas. Para se adaptarem e sobreviverem às indignidades impostas pelos brancos colonizadores, os africanos usaram do princípio de sobrevivência contidos no símbolo Dwennimmen, no mesmo estilo taoísta do Yin-Yang (frágil-forte) e do Ju-Go japonês (suave-forte), ou seja, demonstrar submissão, em superfície, mas tremendo poder, em latência.


Dessa maneira, os afroamericanos, de norte a sul do continente, souberam, com grande sabedoria e resistência, se adaptar e construir seus espaços de poder, em movimentos de defesa e consolidação de seus direitos, conquistados ao longo dos séculos, com sangue, suor e lágrimas, demonstrando um nobre espírito de autodomínio, poderoso, altivo, paciente, inteligente, em uma palavra: Dwennimmen.



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