BUDO (Poema)
BUDO
Inicia-se com um passo
Uma grandiosa jornada
Há que se ter fé e coragem
Nos desafios da estrada
Não desistir pela margem
Por bobagem, nem por nada
Uns têm metas impossíveis
Risíveis tais desatinos
Outros só seguem o fluxo
Arrastados nos caminhos
Alguns miram riqueza e luxo
Contando seus bocadinhos
É a sina do ser humano
Trabalhar pra vir a ser
“Alguém na vida”, qual se diz
“Que vai ser, quando crescer?”
Desde a fase de aprendiz
Bordões malham o viver
Feliz de quem se pergunta
Quem sou eu? Devo ser quem?
Na vida há mais de uma guerra
A da luta contra o mundo
A da luta contra alguém
E a do conflito profundo
Moral do mal com o bem
Ao se traçar uma meta
É bom saber prevenir
É entender que cada ação
Cada passo a se seguir
Comporta uma reação
No compasso do existir
A vida conforma um ciclo
Qual o nascer e o pôr do sol
Cada um de nós desenha
Um caminho por si só
Assim como o astro-rei
De si próprio seu farol
Seja o fim mais importante,
Talvez, fazer algo em vida
Para ser alguém melhor
No dia a dia de lida
Labuta de dor e suor
Por mais que seja sofrida
É fazer algo de grande
É usar o seu talento
Como multiplicação
Da inércia fazer vento
Provocar alguma ação
De uma ação um pensamento
E um pensar move um sentir
E um sentir dá um sentido
Que cria corpo e chama outro
Em raizama igual raiz
E o nome disso é harmonia
E o sobrenome é ser feliz
Nesse sentido, vou dizer
Que ninguém sozinho é nada
Você seja o que for
Tenha tido o que tiver
Não viveu nobre jornada
Se nada fez por amor
Porque o sentido da vida
Não está em coisas vãs
Em conquistar espaços
De fama, riqueza, poder,
Prazeres aos pedaços
Que não têm razão de ser
A vida é teia diversa
De fios de vários matizes
Multicor tapete persa
Aprender a lidar com ela
É para bons aprendizes
Grão saber que se revela
Caminhar por essas sendas
Sem errar é fato raro
A vida é linha tortuosa
É barato que sai caro
É beleza enganosa
É pra quem tem fino faro
Mas errar faz parte, é certo
E o erro faz crescer
Igual bambu a brotar
Vem o nó lhe interromper
Se pelo nó não passar
O bambu irá morrer
Como os nós dos bambus
São as fases desta vida
Você nasce, cresce, sonha,
Luta, cria, realiza...
A dor que se interponha
É uma etapa a ser vencida
Até que chegue o momento
Colher o que se plantou
Olhar pra trás e saber
O que seu talento gerou
O sentimento que há de ter
Fruto do grão que vingou
Viver comporta um dever
Viver é um criar laços
Um servir, dar-receber
É dar a mão, força, abraços
Simbiose esta entender
Nos faz avançar os passos
Ao não ouvir da alma a voz
Ao não enxergar essa luz
Que brilha dentro de nós
Só cria na vida nós cegos
Viver suportando cruz
Puxando correntes de egos
Não há sentido em viver
Com ideia de só competir
Pois sempre há alguém trabalhando
Por seu comer, seu vestir
Há alguém colaborando
Sem nada lhe exigir
Aprendeu a viver bem
Quem tal caminho seguiu
Soube separar as coisas
Em meio a tudo que viu
Soube reunir suas forças
Foi ao fim, não desistiu
Eis o que o Budo te pede:
Guerreiro, faz teu valor
Num rastro em forma de rede
Um é todos, todos um
Essa é a equação do amor
Doar seu dom ao bem comum
SANTOSHA
23 Dez 2019