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Distâncias de Combate

Quando se fala em distâncias de combate, que vão da mais afastada à mais aproximada, em relação ao oponente, muitos teóricos de artes marciais divergem em sua forma de percepção e, portanto, de categorização. No entanto, se elas forem tomadas em termos de uma visão unificadora, teremos, grosso modo, três tipos básicos: longa, média e curta distâncias. Numa visão mais acurada, elas podem ser subdivididas em outras.

Veremos, a seguir, quais são essas distâncias de combate, conforme a percepção do autor desta postagem.

De acordo com as artes marciais que pratico, até o momento: Arnis Maharlika (arte marcial filipina especializada no uso de armas brancas, além de combate desarmado), Wado Ryu (Jujustu Kenpo Karatedo) e Kudo (arte marcial mista ao estilo do Budo, "caminho do guerreiro"), percebo, ao menos, 7 distâncias de combate, a saber:

1. Distância de Armas de Projéteis (armas de fogo, arco e flecha, arco balestra, etc);

2. Distância de Armas Brancas (lâminas, bastões, armas improvisadas);

3. Distância de Chutes;

4. Distância de Socos;

5. Distância de Joelhadas, Cotoveladas, Cabeçadas e Interceptações de Golpes ("trapping range");

6. Distância de Clinches, Agarramento em Pé e Projeções;

7. Distância de Agarramento e Submissões no Solo.

Como exemplos de cada distância acima referidas, teríamos:

1. Combate com fuzis, metralhadoras, pistolas, carabinas, revólveres, granadas, arco e flecha, arco balestra, entre outras armas.

2. Combate com lâminas (lança, alabarda, fação, espada, machadinha, faca, canivete, etc); bastões (bastão retrátil, yantok, cacetete, tonfa, nunchaku, bastão longo como o bo, bastão médio qual o jo, bastão curto do tipo hanbo, curtíssimo como o dulo-dulo, etc); armas improvisadas (tesoura, tamancos, bolsas, bengala, guarda-chuva, leque, cinto, corda, corrente, caneta, prego, cadeado, cadeira, livro, escova de dentes, etc). Nesse âmbito, entram artes marciais como o Arnis filipino, o Kenjutsu (arte da espada japonesa), o Silat malaio, o Pencak Silat indonésio, o Kobudo okinawano, o Krabi Krabong tailandês, a Esgrima européia, o Ninjutsu, a Canne de Combat francesa, entre outras.

3. Combate com Chutes, especialidade de artes de autodefesa como Karate, Taekwondo, Savate, Kickboxing, Muay Thai, Sikaran, Taekkyeon, Shao Lin Gung Fu, Sanda, Jujutsu, Kudo, Capoeira, entre outras.

4. Combate com Socos ou Mãos Abertas, desenvolvido por artes como Boxe Ocidental, Karate, Taekwondo, Savate, Muay Thai, Kickboxing, Jujutsu, Wing Chun, Shao Lin Gung Fu, Sanda, Kudo, etc.

5. Combate com Joelhadas, Cotoveladas, Cabeçadas, Interceptações de Golpes, como se aprende com Muay Thai, Jujutsu, Kickboxing, Karate, Wing Chun, Kudo, etc.

6. Combate de Clinches, Agarramento em Pé e Projeções, típico do Jujutsu, Aikido, Luta Olímpica, Judo, Sambo, Muay Thai, Shuai Jiao, Luta Livre Brasileira. Buno filipino, alguns estilos de Karate e outros de luta agarrada.

7. Combate de Agarramento e Luta no Solo, de artes especializadas como o Jiu Jitsu Brasileiro, Luta Livre Brasileira, Sambo, Judo, Luta Olímpica, Dumog, etc.

Conforme essa categorização, fica evidente que se está falando das instâncias em que o combate físico está explícito. No entanto, quando se toma em consideração que o combate vai além das vias de fato, ou seja, que já começa no âmbito das intenções de agressão, de defesa, de prevenção ou de reação; no plano das ideias, vontades, atitudes e posturas, então estamos nas esferas ideológicas e psicológicas do combate.

Neste sentido, no meio marcial, para as instâncias antes do combate físico, faz-se uso de práticas conhecidas como Judo verbal ou Aikido verbal. Trata-se do manejo, com base em conhecimentos de linguagem e psicologia, para a contenção da agressão, antes que ela ocorra de fato, buscando-se a dissuasão, o ludíbrio, o convencimento, a desistência do agressor em efetivar seu ataque, para se evitar um mal maior.

No nível do Direito, fala-se de legítima defesa, uso progressivo da força e noções correlatas, como lesão corporal, com a finalidade de que o sujeito cidadão tenha precauções necessárias para o caso de último recurso e seja amparado por lei.

Todos esses meios, para além das 7 distâncias referidas, podem ser considerados como outras distâncias de combate. E se se quiser ampliar a noção de cultura de combate, vamos para níveis como filosofia, ética, moral, espiritualidade e modo de vida marcial.

Tudo isso compõe camadas sobre camadas de autodefesa que nos preparam para uma vida conforme a visão de mundo de um autêntico guerreiro, de uma guerreira autêntica. Assim, evidencia-se que ser um cultor do combate é quem domina muito além do que técnicas de autodefesa, mas abrange conhecimentos de estratégia, tática, psicologia, filosofia, moral, ética, espiritualidade: um autêntico modo de ser marcial.

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http://www.esextante.com.br/media/upload/livros/ComoSeDefenderDeAtaquesVerbais_Trecho_1.pdf

Meditação ou da Cultura de Combate Interior

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