Imaginação Ativa
Imaginação Ativa é um conceito utilizado pelo psicólogo suíço, Carl Gustav Jung, criador da Psicologia Analítica.
Imaginação ativa constitui-se de certas ideias, sentimentos e afetos vivos em cada um de nós, que se traduzem por exercícios mentais, para permitir uma comunicação, de alguma forma, entre o consciente e o inconsciente, por exemplo, mediante trabalhos artísticos, como desenhos e pinturas de quadros que o sonhador pode fazer de seus próprios sonhos. Esta é uma ideia que Jung atualizou dos alquimistas, visando manifestações de fatores ligados à faculdade de relacionar-se, seja consigo mesmo, seja com os outros. Pode-se entender imaginação ativa como veículos de comunicação para amadurecimento psíquico. (1)
Trata-se de um método de permitir que o inconsciente de nossa alma se comunique com nossa consciência, dando, assim, pistas para um autoconhecimento - o conhecimento do Si-mesmo, o self : a manifestação pessoal do Divino em nós, o Self cósmico.
O exercício abaixo descrito refere-se a uma prática desenvolvida em clínica, por minha terapeuta, junguiana, ao estilo de uma meditação dirigida, visando ampliação de símbolos que me surgiam à mente, para resolução de um problema pessoal específico. Foi recomendado, ainda, representar graficamente as imagens surgidas em minha mente, durante o processo terapêutico. A versão apresentada, aqui, no Cultura de Combate, está em forma de versos livres.
"campo aberto à minha frente
horizonte claro
densa floresta à esquerda
um portal
caminho escuro rumo ao coração da floresta
embrenho-me por caminhos tortuosos, estreitos e mal iluminados
súbito uma clareira
coração
pequena cabana escura à esquerda
estou sentado no alto de rochas
pequena fogueira logo à minha frente
céu azul sem nuvens
arco e flecha em cor vermelho escuro brilhante apontam para o céu
caminho à direita leva a um horizonte após a floresta
o arco dispara ao meu toque, quando puxo a flecha,
rumo ao céu sem alvo e sem fim
queimo o arco na fogueira
dessa alquimia surge uma faca de sobrevivência
a faca
eu
a floresta
retorno pelo mesmo caminho
de volta ao portal
e ao campo aberto
tudo iluminado"
(19 Março 2019)
Como os símbolos são pessoais, subjetivos, não há uma explicação única. Deve-se buscar sempre o que se chama, na Psicologia Analítica, de ampliação dos símbolos, os quais aparecem especialmente nos sonhos, por exemplo. Símbolos são metafóricos, carregam significações sem fim, sempre passíveis da atualização; são a expressão do que nos traduz como seres humanos e, por isso mesmo, independente de época, lugar e cultura, nos une como espécie. São um caminho de se acessar a natureza humana, ao mesmo tempo, de modo pessoal e coletivo.
Para Jung, os arquétipos se manifestam por símbolos, e esses, manifestam a alma humana.
A prática da Imaginação Ativa, no contexto do reconhecimento do arquétipo do Guerreiro, da Guerreira, em nós, nos ajuda a desenvolvermos um relacionamento pessoal conosco mesmos de forma amadurecida. Consequentemente, nos educa a agirmos no mundo por meio das qualidades luminosas típicas do guerreiro: coragem, cuidado, respeito, esforço, proteção, disciplina, honra, honestidade, lealdade, abnegação, defesa da vida, promoção da paz e da justiça, compaixão, serviço dedicado a um bem maior. São essas virtudes que nos orientam a atuarmos de forma correta, não permitindo que as sombras em nossa alma (as máculas de uma personalidade sádica, masoquista, violenta, injusta, agressora, impiedosa, cruel, desumana) tomem o lugar do Verdadeiro Espírito do Guerreiro, da Guerreira - que é o dedicar sua vida, seu dom, para o bem comum.
Os sentimentos que me vieram, a partir das imagens simbólicas manifestas pela prática de imaginação ativa citada, foram os de superação de dificuldades; mirar as alturas (para além das perspectivas horizontais), para devotar a vida a causas nobres; saber que, de algum modo, os problemas que enfrentamos, nas circunstâncias mais adversas, delas mesmas podemos ter um instrumento para nossa salvação, nossa sobrevivência.
(1) Parágrafo referente à minha Dissertação de Mestrado em Literatura: O espartano e o samurai como arquétipos do masculino maduro em "Portões de Fogo", de Steven Pressfield, e "Musashi", de Eiji Yoshikawa - um estudo comparado", defendida em 18 de Janeiro de 2019, pelo Programa de Pós-Graduação em Literatura da Universidade de Brasília (UnB), constante do Capítulo I. Teoria Junguiana; 1. Conceitos Fundamentais da Psicologia Analítica; 1.6. Anima /Animus, Imaginação Ativa, Quaternidade; p. 30.
SANTOSHA