Natureza e Espírito do Combate
Existir já é combate. Querer é combate. Ser, principalmente ousar ser, é combate. Desde a fecundação, na luta entre espermatozoides pela fecundação do óvulo, há combate. Qualquer disposição para pensar, desejar ou fazer, constitui manifestação de estado de luta. Impossível dissociar o viver do militar por algo.
O espírito do combate está em praticamente tudo. Ocupar um lugar no espaço do mundo é disputar com o de outro. A questão é como encaramos a vida, se no sentido parasitário e destrutivo, ou simbiótico e partilhado. No primeiro, busca-se eliminar toda e qualquer concorrência, pela ótica competitiva da lei do mais forte; no segundo, a via do consenso, do diálogo, da ética diplomática que, apesar de certas perdas, se tenha compensações às partes envolvidas.
A vida é isto: conflitos e compartilhamentos de forças e energias.
Percebe-se a natureza do combate no simples respirar, no alimentar-se, no vestir-se ou desnudar-se, no pesquisar um tema perturbador, numa conquista amorosa.
Polêmicas e discussões filosóficas, científicas, estéticas, morais, éticas, etc, são inerentes ao espírito bélico da vida.
Bela e bélica é a vida.
A todo momento, bactérias estão lutando com nossos anticorpos, o tempo todo, em nosso organismo, seja por nossa destruição, ou em colaboração por nossa vitalidade, uma vez que algumas, como lactobacilos, trabalham para o bom funcionamento de nosso trato digestivo. Só para citar um exemplo.
A vida é feita de teses, antíteses, sínteses e, para complicar (ou salvá-la), também de irracionalidade, de tudo o que foge à nossa compreensão, que não se enquadra em nossos padrões de racionalização. O impulso vital está além de toda e qualquer formatação que queira nossa mente limitada.
Vida é linguagem hermética. É feita de imagens, símbolos e sonhos. Tudo o que desafia nossa razão. E tudo o que nos desafia, nos impele ao movimento do pensamento, do sentimento, do comportamento. E isto é combate.
É da natureza do combater o confrontar, o fazer face, externa ou internamente. É encarar o outro e a si mesmo. Tudo na natureza ou no ser humano evoca a luta, a disputa, a preservação da vida, a defesa da integridade física ou moral, a discussão sobre um assunto, a inquietação diante do desconhecido.
O espírito do viver anima pelo poder do combate, mas também da dança. Esse espírito que dá vida é o mesmo que traz a morte. Viver e morrer são da ordem do intrigante e do instigante. A atitude de combater e de dançar não são muito diferentes. Ambos envolvem saber se postar, aproximar e distanciar, para, quando se fizer necessário, golpear, driblar, emparelhar corpo a corpo, redirecionar força ou, simplesmente, não fazer nada, a não ser esperar o melhor momento de agir e as melhores táticas e técnicas para determinado fim.
A sabedoria, a compaixão e o altruísmo – ou seus opostos: ignorância, aversão e egoísmo – é que determinarão se nossas atitudes farão a dança da morte ou a dança do bom combate.
Eis a natureza e o espírito do combate quando se vive o modo de vida guerreiro.
SANTOSHA