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SHUHARI - O Caminho da Maestria

SHUHARI

"Shuhari" é um conceito vindo das artes marciais japonesas que descreve 3 etapas da aprendizagem.


O conceito foi elaborado como "Jo Ha Kyu", ou: "princípio, quebra, rapidez/desenvoltura", pelo mestre Fuhaku Kawakami, inicialmente conforme o "Chado" ou "Chanoyu", a Cerimônia do Chá. É também aplicado no Teatro "No", no Jogo "Go", na arte da espada "Kendo", entre outras disciplinas.


Porém, há correlação e ressonância com os três conceitos da sabedoria taoista chinesa, entendidos como:


地 "Di" (Terra) : Fundamento. Experimentar movimentos aos níveis fundamentais.


人 "Ren" (Humano) : Pronto para aprender.


天 "Tian" (Céu) : Pensamento não consciente, fluidez, mover-se como os elementos. Este estágio leva anos de treinamento, sob orientações de outros grandes mestres.


A primeira etapa, "Shu", pode ser traduzida por 'seguir regras'; a segunda etapa, "Ha", por 'compreender regras'; e a terceira, "Ri", por 'transcender regras'.


Shu (守:しゅ, "proteger", "obedecer") — sabedoria tradicional — aprender os fundamentos;


Ha (破:は, "desligar-se", "divergir") — quebrar a tradição — encontrar as exceções à sabedoria tradicional, encontrar novos pontos de vista;


Ri (離:り, "abandonar", "separar-se") — transcender — não há técnica ou sabedoria tradicional, todos os movimentos são permitidos.


Importante ressaltar que, para se ter competência, habilidade e autoridade para quebrar regras e transcendê-las, é fundamental passar pela primeira etapa (Shu), pela qual, o postulante a graus avançados do conhecimento, terá aprendido não só a lógica e a funcionalidade por trás das técnicas, mas também certos valores, como a humildade e o respeito aos mestres, valores esses, sem os quais, não se formam novos mestres, apenas simples replicadores de técnicas, sem conhecimentos profundos. ou, ainda, meros autoproclamados "mestres", mas de técnicas duvidosas e, pior, sem valores éticos ou morais - a menos que se trate de caso raro de gênio e autodidatismo, o que é muito improvável.


Tomando-se outros exemplos, tenderíamos a supor que o conceito de "Shuhari" pode ser estendido a toda e qualquer formação que se exija a orientação de um mestre. Porém, dentro de uma tradição oriental como a das Artes Marciais, especialmente aquelas que têm como fundamento teórico e prático filosofias de cunho taoista, budista e confucionista, dificilmente haveria semelhanças no Ocidente. A não ser, obviamente, que se fale de tradições que resistiram ao tempo, como as presentes, ainda hoje, em sociedades tribais, das quais os antropólogos se empenham em nos deixar seus relatos documentados. Porque Mestre, nesses últimos casos, não é um simples termo, mas um profundo conceito.


A figura do Mestre é equivalente à do Mago, do Xamã, do Mentor, do Pajé. São esses mestres quem orientam e transmitem saberes ancestrais, quase sempre com cargas identitárias e/ou simbólicas preciosíssimas, fundamentos de civilizações ou de iniciações em mistérios ou inteiros caminhos de vida, plenos de sabedoria e sentido particulares, capazes de elevarem um anônimo à sua formação como indivíduo de personalidade definida, única.


Compreendendo um pouco mais além, evidencio este conceito "Shuhari" como um diferencial de enorme importância, para se fazer justiça aos tradicionais e especiais ensinamentos em Artes Marciais, os quais não podem ser reduzidos a meros aspectos físicos, saberes esses os quais correriam o risco de estar sob domínio de uma Ciência, chamada Educação Física.


Quanto a isso, nos alerta uma antiga máxima latina:


"Ne sutor ultra crepidam." Traduzindo: "Sapateiro, não vá além das sandálias."


E como nos ensina, com autoridade, um ditado das artes marciais tradicionais, o qual traz em si toda a sabedoria "Shuhari":


"Quando o discípulo está pronto, o mestre aparece."


Mestre é quem sabiamente se submeteu a passar pelas três etapas - Shu, Ha, Ri -; é quem aprendeu a ser Discípulo e atingiu a maturidade e a humildade de sempre continuar buscando, e não parou no meio do caminho; é quem não ficou somente com o que seus mestres encontraram, mas sim, quem permaneceu no caminho, atrás do que eles sempre buscaram.


"Shurahi" pode ser entendido, perfeitamente, como "Caminho da Maestria", pois que esse é a verdadeira trilha, a essência mais pura e a herança mais valiosa das Artes Marciais.

SANTOSHA

Fontes:

https://fr.wikipedia.org/wiki/Shuhari

https://en.wikipedia.org/wiki/Shuhari

https://en.wikipedia.org/wiki/Jo-ha-ky%C5%AB

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